terça-feira, 28 de abril de 2020

Medo de Esperança

Eu tenho medo de ter esperanças.
Outro dia um boy me entrelaçou nos seus braços
me fez desaguar em prazer
me beijou no pescoço
e eu surtei

Tantos foram os cortes na carne
Tantas foram as manchas na alma
Tantas vezes já me fizeram exatamente isso
Só pela segurança das 4 paredes e pelo frescor do gozo
Pois quando o sol nasce e eu piso na rua
Quem me acompanha é a lua.

A esperança nunca caminhou um quarteirão de mãos dadas comigo
Sabe quem dorme de conchinha comigo todos os dias?
Desde que nasci?
A solidão
Sabe quem me dá a mão na rua?
O desprezo.

Quem se importa quando a lágrima transborda
Quem chora quando a trava rola?
Quem se importa quando seu simples olhar me destroça?
Quando foi que teu feminismo abolicionista de gênero
cheio de putafobia, aceitou um currículo nosso?
Quando foi que teu radicalismo se importou com o sangue de nós
que vive numa esquina travestida?

Mas é obvio teu radicalismo bebeu de todo esse colonialismo.
Então não vem me dizer como a mulher que sou deve ser
Você não é
Você não foi
Cê nunca se importou
Só nos colonizou

Agora cê entende pq eu tenho medo de amor?
Por que isso tudo nunca me esperançou?
Suas ideias só me atrapalhou.

Eu sigo aqui assim
Todos os dias de punho cerrado
Maxilar travado
Pedindo a satanás que não seja hoje o dia de encontrar o cavaleiro do patriarcado
que vai encerrar a vida de mais uma transviada.

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