Sempre amei,
amava com os
olhos,
aprendi que a cordialidade me fazia ter “amigos”,
os
meus bom dias,
rir das piadas contra mim,
dizia, não me
importo, afinal eu não sou.
Amar foi o que me ensinaram,
em meio às surras eu tinha que
amar,
em meio à violência doméstica tive que amar,
quando
apanhava na cara,
eu tinha que amar.
Amei,
me doei,
servi como ato de amor,
cedi por
amor,
dizia eu te amo,
por amor.
Um dia, achei que o amor voltaria.
Falei tudo sobre
mim,
afinal, não amava mais como inocente,
amava coerente,
não
amava mais biblicamente,
amava amadurecendo.
Nesse dia recebi de volta o não-amor,
me xingou,
me
bateu,
me odiou,
chorou e tentou me culpar,
No dia que surgi, amável
recebi o ódio,
pois o que eu sou,
não merecia amor,
não merecia compreensão,
não merecia
sorrisos.
Olhei pra trás e vi que sempre amei,
mas nunca fui amado de
volta,
e quando fui, não era pra mim, era outro eu
vi que me
aliei a quem nunca me abraçou,
vi que quem me amava,
era
odiado também.
Meu ódio é o único ato de repulsa,
de protesto,
de
oposição,
de lucidez que ainda posso ter,
contra meus
odiadores.
Dizem para eu perdoar,
dizem para eu deixar pra lá,
dizem
que não são culpados,
mas se não são, quem é?
Meu jeito?
Minha forma de viver?
Meu jeito de falar?
Meu
jeito de se vestir?
Isso tudo sou EU.
Eu culpado?
Perdão é para quem no minimo reparou a questão,
perdão é
para quem não foi culpado de nada grave,
perdão o perdão é
cristão,
eu não,
o perdão é paz,
eu não tenho,
o
perdão é branco,
e o branco não é paz,
o branco é
sinismo.
Omissão,
neutralidade,
o branco não sou eu,
a
culpa não me cabe.
Meu ódio não nasceu comigo,
foi
plantado,
regado,
cultivado,
mas ninguém quer colher.
Meu ódio é a única parte que ainda protesta,
meu ódio é o
único que ainda grita, não esqueci,
meu ódio é a única
energia que ainda pode reparar,
reparar a mim.
Meu ódio é o
único que não vai me silenciar,
a paz, o perdão, sim esse é o
silencio,
silencio de quem?
silencio pra quem?
Silencio por
que?
Silêncio não me protege,
nunca protegeu.
Então não me peça para perdoar,
não me peça para
desculpar,
não me peça para reconciliar,
não me diga para
ficar em silencio,
não sou capaz disso,
não mais,
não
depois de tudo.
O ódio pode ser um veneno,
pode até me fazer mal,
quem
sabe me matar,
mas não sou dessas que faz silencio com medo da
morte.