quinta-feira, 15 de março de 2018

O que a rua criou!



Eu lembro que desde muto cedo
tomava tapa na cara
Pela forma que me movia
Acho que era minha feminilidade
um crime grave, mesmo se você tiver pouca idade

Com 6 anos
Sonhava em cortar meus pulsos na laje
Cresci atordoada
Amedrontada
Aprendi desde muito cedo que o preço da minha vida
era o meu silêncio

Aceitei tudo que me deram
Foi Jesus
Foi dízimo
Até cura gay eu tentei
Tudo isso só me encheu de medo, vergonha e ódio, muito ódio

Você sabe o que é crescer assim?
Abraçada aos sentimentos mais destrutivos!?
Eu era uma criança

Cresci apanhando
Cresci com medo
Cresci fugindo de mim mesma
e me escondendo descobri todas nós
As marginais

Um dia minha mãe falou, você é a porra de um maloqueiro
mas cê me jogou na rua, agora aguenta o que a rua criou

o medo e o ódio a gente transformou em estratégia e sagacidade
De tanto apanhar na cara, aprendi a socar


Meus esconderijos é onde monto meu bonde
O nosso extermínio é tudo o que eles querem
E será tudo que não terão
Nenhuma de nós vai continuar sangrando

Nos verão de pé
Nos verão rindo
Nos verão cheias de prestígio
Não serão mais nossos corpos no chão
Não espere mais paz

A paz mora no silêncio
E nois tá com a boca cheia de ideia pra acabar com seu XIU, com seu PSIU.

Então fica esperto na rua
pois esse mundo também é nosso
e não iremos nos retirar
vocês não vão nos exterminar
cê não dobra uma esquina, se a gente não deixar.

As trava cresceu, bebê
Agora vai ser com a gente
ou não vai ser.