terça-feira, 28 de abril de 2020

Erupção

Eu me sinto borbulhando
Eu estou fervendo
Sabe esse lugar entre a boca do estomago e o coração?
é aí que ferve.

É como se fosse lava
Magma
Tudo que toco derreto

É aquela sensação da montanha russa quando desce
ou será quando sobe?
Não sei
mas é isso o dia todo.

Eu só queria um pouco de silencio
um pouco de paz
XIU
já inventaram paz pra travesti?

Eu jamais imaginei que estaria aqui
fazendo poesia pra minha hormonização
mas eu odeio essa sensação
me faz pensar o quanto me mudo
para ouvir o eco do meu reflexo no espelho
Pela sensação de paz com minha imagem
sinto que assim fico em paz comigo

Mas sempre que sinto o preço
me desespero
será que quero?
será que devo?

Será que é futilidade meu querer?
uma vez a Bibi disse
que a transição não deve ter um destino
ela acontece conforme estiver bom pra mim

Fico pensando o quanto tem me feito bem
mas sempre tenho esse receio
Se estou indo certa
se a resposta para todo meu barulho interno
tá no meu externo

Tenho refletido o quanto toda essa experiência é assustadora
Não é como se eu quisesse parar ou voltar
Até pq voltar pra onde?

Mas sempre me incomoda
ser tanto magma
ser tão descontrolada
Sou como as aguas das boyoceteras que
desagua somente em quem pode carregar

Sinto sempre que vivo um dilema
ou lido com meu barulho externo
ou com o interno.
Mas qual o preço?

Hormonio

Tenho pensado muito sobre meus hormônios,
não sei se é bem isso,
sinto que meu humor é um carro desgovernado numa montanha russa,
parece que tudo me afeta
logo eu, afetada desde que nasci

Tenho pensado em como me relaciono com o mundo,
mas será que é por aí?
É possível uma trava viver em paz?

Acho que sou uma montanha russa ingenua demais, para me auto governar.
Foi de tanto descarrilhar,
de tanto capotar,
de tanto desesperar, que aprendi a seguir em frente,
mas me pergunto o tempo todo, será que errei com algo que ficou lá atrás?

O que mantenho na mente é que preciso continuar a travekar,
continuar a descarrilhar
continuar a perlutar

Vou me Ciproteronar
Vou me estradiolizar
Vou me perlutar
Vou me hormonizar.

Eu sou aquilo que restou de uma briga entre o social, o biológico e o psiquico.
Eu sou fruto de uma briga
Sou ilha do desentendimento
Sou fruto da dissidência

Eu sou uma monstra
Sou fruto da coragem
Coragem essa que alimentei de medo
Fiz um refogado com o meu medo e dei de alimento pra minha coragem
Hoje quem causa medo, sou eu

Minguada de coragem
Mas jamais amedrontada.

Medo de Esperança

Eu tenho medo de ter esperanças.
Outro dia um boy me entrelaçou nos seus braços
me fez desaguar em prazer
me beijou no pescoço
e eu surtei

Tantos foram os cortes na carne
Tantas foram as manchas na alma
Tantas vezes já me fizeram exatamente isso
Só pela segurança das 4 paredes e pelo frescor do gozo
Pois quando o sol nasce e eu piso na rua
Quem me acompanha é a lua.

A esperança nunca caminhou um quarteirão de mãos dadas comigo
Sabe quem dorme de conchinha comigo todos os dias?
Desde que nasci?
A solidão
Sabe quem me dá a mão na rua?
O desprezo.

Quem se importa quando a lágrima transborda
Quem chora quando a trava rola?
Quem se importa quando seu simples olhar me destroça?
Quando foi que teu feminismo abolicionista de gênero
cheio de putafobia, aceitou um currículo nosso?
Quando foi que teu radicalismo se importou com o sangue de nós
que vive numa esquina travestida?

Mas é obvio teu radicalismo bebeu de todo esse colonialismo.
Então não vem me dizer como a mulher que sou deve ser
Você não é
Você não foi
Cê nunca se importou
Só nos colonizou

Agora cê entende pq eu tenho medo de amor?
Por que isso tudo nunca me esperançou?
Suas ideias só me atrapalhou.

Eu sigo aqui assim
Todos os dias de punho cerrado
Maxilar travado
Pedindo a satanás que não seja hoje o dia de encontrar o cavaleiro do patriarcado
que vai encerrar a vida de mais uma transviada.